O Sofrimento Psíquico no Trabalho de Professores de Uma Universidade Federal No Brasil: Um estudo à luz da sociologia clínica e da psicodinâmica do trabalho

Resumo

Abordando a relação entre a atividade docente no ensino superior público e o sofrimento psíquico no trabalho, este artigo traz os resultados de uma pesquisa de natureza qualitativa, ancorada nos pressupostos teórico-epistemológicos da sociologia clínica e da psicodinâmica do trabalho. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas de tipo compreensivas com docentes de uma universidade pública brasileira localizada na região Centro-Oeste e observação direta de seu contexto de trabalho. O foco central da análise foi colocado nas experiências intersubjetivas dos entrevistados, levando em consideração como elas afetam o sujeito e sua relação com seu ambiente. Os resultados evidenciam que os docentes sofrem não pela natureza do trabalho, mas pela impotência em transformar as condições de seu contexto de trabalho, diante da precarização crescente à qual estão submetidos. Esta precarização tem reflexos nas relações interpessoais, que passam a ser marcadas por disputas entre colegas em decorrência de uma lógica gerencial competitiva que, cada vez mais, atinge o mundo da educação de ensino superior público. Observou-se, ainda, que o contexto político do país imediatamente anterior à época da pesquisa, feita em 2023, agravou ainda mais o sofrimento psíquico dos docentes. A psicodinâmica do trabalho aponta que a intensa pressão originada pela organização do trabalho pode comprometer a busca de equilíbrio psíquico interno dos indivíduos, levando-os ao sofrimento chamado de patogênico. Nestes casos, o trabalho deixa de ser fonte de saúde mental para ser de adoecimento mental ou psicossomático.

O estudo revela ainda que os efeitos do sofrimento psíquico podem ser observados nas dores físicas, depressão, ansiedade, síndrome de Burnout, levando em casos extremos à desistência da carreira de professor do magistério superior.